terça-feira, 1 de março de 2011
Um dia, uma esperança
A implicância de Muamar Kadafi em permanecer na Líbia, ao contrário do que fizeram outros ditadores árabes, desconcerta analistas e líderes de países que recentemente se tornaram amigos do coronel. Os Estados Unidos, por exemplo, que viviam uma lua de mel com o regime líbio, por ele ter se comprometido a reprimir qualquer resquício de fundamentalistas do tipo da Al Qaeda em seu território, agora rugem ameaças do tipo "saia já ou o tiraremos nós mesmos daí".
Convenhamos que isso não é coisa que se faça com um amigo, mas os americanos, esteja quem estiver morando na Casa Branca, seguem aquele velho ditado: "Amigos, amigos, negócios à parte." O negócio em questão é o petróleo que lá jorra abundante. E é claro que foram os próprios americanos que inventaram a máxima.
Pois na iminência de Kadafi perder o trono, os pragmáticos americanos já se puseram do lado dos prováveis herdeiros do poder - algum chefe de uma daquelas tribos que comandam parte do território do "país".
É que a Líbia, como toda a África, é uma invenção ocidental, uma herança dos colonizadores europeus, que dividiram o continente em porções que abrigam, em muitos casos, inimigos irreconciliáveis há séculos.
Não há como Kadafi resistir a tanta pressão. Mais hora, menos hora, ele vai cair. Seu substituto, provavelmente, se alinhará inteiramente aos interesses ocidentais. A "democracia" dos moldes do Iraque e do Afeganistão chegará, enfim aos poucos mais de 6 milhões de habitantes da região.
A Líbia, portanto, é um caso praticamente resolvido.
Para os Estados Unidos, porém, há outros problemas à vista. A fúria dos pobres árabes tem poupado, por enquanto, alguns dos mais íntimos amigos da potência, como a milionária Arábia Saudita, que em pleno século XXI é uma monarquia absolutista. Ou o Kuwait, monarquia constitucional, ou o Bahrein, também uma monarquia absolutista, praticamente uma base militar americana na região.
Há muitos motivos para o governo Obama, ou quem sucedê-lo, se preocupar. Décadas e mais décadas de uma política exterior baseada apenas na defesa de seus próprios interesses resultaram neste mundo desigual e injusto, em grande parte governado por ditadores títeres, que prestam conta apenas aos seus empregadores e desprezam os direitos mais elementares de seus servos.
Entre os pontos positivos dessa revolta dos árabes está o fato de que milhões de pessoas que viviam amedrontadas, sufocadas, por regimes cruéis, estão agora contaminadas pelo vírus da liberdade. Pela primeira vez, eles experimentam a sensação de força irresistível que toma conta da massa. Quando essa doença se espalha, ela pode demorar a fazer suas vítimas, mas um dia, certamente, ela vem à tona.
Um dia, uma esperança...
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