sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Conversa na portaria

Paro um instante na portaria do prédio. O porteiro puxa conversa:
- Que coisa no Rio, hein, seu Carlos... Mais de 500 mortos. Cena de arrepiar... 
- É,  Cada ano fica pior.
- É aquela coisa de sempre, seu Carlos. Deixam as pessoas morar nesses lugares e depois acontece a tragédia.
- Em todo o lugar é assim...
- Mas ninguém mora nesses lugares porque quer, não é mesmo, seu Carlos?
- Não, se pudessem, acho que viveriam em Higienópolis, nos Jardins...
- Eles invadem os terrenos, constroem os barracos e depois a prefeitura leva luz, água...
- É cômodo para  o prefeito. Ele acha que está resolvendo um problema. Até...
- Até que acontece a tragédia. Aí não tem mais o que fazer.
- Tem sim. Tem de tirar as pessoas de lá de alguma maneira, dar crédito barato para elas comprarem uma casa num lugar seguro, subsidiar a moradia, sei lá, só sei que isso é obrigação do Estado.
- Tá na Constituição, não é mesmo, seu Carlos, como dar segurança, escolas, hospitais...
- Exato, mas parece que tudo isso é ignorado. Vamos ver agora, parece que o governo federal vai aumentar o seu programa de moradia justamente para quem vive nessas áreas de risco.
Nesse exato momento da nossa conversa tocou o interfone. Tivemos de interromper a nossa conversa. E, de qualquer modo, eu já estava mesmo indo embora: tinha começado a chover forte.

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