quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O fracasso impresso

Hoje poucos se lembram do que era o Brasil antes do Plano Real, com a inflação altíssima e as soluções "mágicas" que todos tinham para controlá-la. Os planos econômicos se sucediam, os fracassos também. O cargo de ministro da Fazenda era uma maldição: seu ocupante, fosse quem fosse, estava fadado ao naufrágio.
Entre tantos que lá passaram, dois se "destacaram": Zélia Cardoso de Melo, uma paraquedista incompetente que causou sofrimento para milhões de brasileiros, e Maílson da Nóbrega, um burocrata que pensou ter ganho a sorte grande ao ser nomeado para a função pelo ex-presidente José Sarney.
Maílson ficou na Fazenda entre janeiro de 1988 e março de 1989. Quando saiu, a inflação mensal era de mais de 80% - um recorde.
Assim que assumiu o cargo, disse que iria fazer a política do "feijão com arroz", ou seja, que não pretendia adotar nenhum daqueles planos espetaculares dos antecessores. Não conseguiu: seu feijão com arroz era intragável e por isso ele tentou consertar a janta com um tal de "Plano Verão" que durou dois meses.
Maílson é hoje um palpiteiro profissional. Neoliberal de carteirinha, tem muita gente que paga para receber seus conselhos. E ele deve se julgar importante, tão importante que está lançando um livro sobre sua vida. Emocionante, a julgar pelo release que mandou aos jornais:
"Além do feijão com arroz conta a admirável trajetória de Maílson da Nóbrega: de humilde filho da Paraíba a comandante da política econômica do Brasil no fim da década de 1980 e, agora, respeitado consultor econômico. A vida do ex-ministro da Fazenda retrata muito da Economia recente do país e as transformações da sociedade desde a década de 1940. Sua atuação na esfera pública lançou as bases para muitas das adequações da economia brasileira ao cenário mundial, realizadas posteriormente.
Maílson da Nóbrega relata todas as suas experiências profissionais: o início da carreira aos 20 anos de idade no Banco do Brasil; o trabalho, em 1977, nos ministérios que intervinham na economia brasileira; sua chegada na década de 1980 ao Ministério da Fazenda como secretário geral. Nesta época, ele liderou os estudos que resultaram em profundas transformações institucionais nas finanças públicas, incluindo a reestruturação das funções do Banco Central, a criação da Secretaria do Tesouro Nacional e a extinção do Orçamento Monetário.
As memórias de Maílson, em co-autoria com Louise Sottomaior e Josué Leonel, contemplam sua atuação como ministro da Fazenda entre janeiro de 1988 e março de 1990. Como ele bem recorda, um dos períodos mais difíceis da economia brasileira. As pressões lícitas e ilícitas foram muitas. Em sua gestão no ministério foram dados os passos fundamentais para a abertura da economia, as privatizações e a modernização das finanças nacionais. Fatos pouco conhecidos do grande público são revelados em Além do feijão com arroz. Entre eles uma reunião de cúpula do governo ocorrida quando José Sarney era presidente da República e Maílson, seu ministro da Fazenda. No encontro, foi discutido se Sarney deveria renunciar ou não antes do término de seu mandato. Também revela o funcionamento da política em momentos-chave, especialmente na transição do regime militar à democracia e como os poderes econômicos, políticos e midiáticos se entrelaçavam."
O texto da "orelha" da obra é de autoria de outro expoente do pensamento econômico brasileiro, o argentino Fábio Giambiagi, aquele que fez da extinção da previdência social pública a razão de sua vida. Como é de praxe, ele é extremamente generoso com o biografado:
“Este livro é do calibre do célebre Chatô ou das biografias de Samuel Wainer e de Roberto Campos: uma leitura imprescindível para entender a segunda metade do século XX no Brasil. Com a vantagem de invadir a primeira década do XXI e adentrar as brumas das três seguintes. Estamos diante de uma aula de História, oferecida por um excepcional contador de histórias”.
O livro tem 588 páginas. É página que não acaba mais. O fracasso realmente subiu à cabeça de Maílson.

Um comentário:

  1. Motta, me desculpe o palavrão mas... puta que pariu. 588 páginas sobre a vida de Mailson da Nóbrega? Nem o preso em total isolamento mais desesperado por leitura vai resistir a isso. O coitado seria capaz de bater com o livro na própria cabeça para cometer suicídio. Abraços! (LAP)

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