terça-feira, 26 de outubro de 2010

Os tucanos e os pobres


É até engraçado ouvir o candidato tucano José Serra falar dos pobres em sua propaganda eleitoral. Pois se há duas coisas que não combinam são tucano e pobre. O PSDB, assim como seus satélites DEM e PPS, é um partido essencialmente urbano, de classe média, paulista, desvinculado dos movimentos sociais e do sindicalismo, que foi ganhando espaço parlamentar à medida em que se deslocava para a direita.
Hoje é o legítimo representante do eleitorado antipetista, conservador, que se concentra majoritariamente no Sul/Sudeste.
Por isso existe todo esse desconforto quando Serra fala dos "pobres". Ele simplesmente está abordando algo completamente alheio ao universo tucano. No máximo, os "pobres" foram, algum dia no distante passado, objeto de algum estudo acadêmico - quando os tucanos mais letrados se contentavam apenas em frequentar a Academia.
Um dado revelador do que é o PSDB e afins é o fato de que dos três senadores, 22 deputados federais e 21 deputados estaduais negros eleitos este ano nenhum pertence ao PSDB ou ao DEM ou ao PPS. Nenhum! São todos do PT, do PCdoB e do PSB. Os tucanos simplesmente ignoram que hoje mais de 50% da população brasileira, segundo o IBGE, é de negros (a porcentagem inclui os que se declararam pardos ou mestiços). E, como se sabe, os negros estão na base da pirâmide social...
Os tucanos também desprezam os negros na hora de compor seu estafe administrativo. Não me lembro de nenhum outro negro, além de Pelé, que tenha feito parte do ministério de FHC. E convenhamos, Pelé não é um negro típico...
Além disso, é notório que o partido e seus satélites não fazem nenhum esforço para se aproximar dos movimentos sociais e dos sindicatos. O MST, por exemplo, para eles não passa de um bando de marginais que deve ser tratado como um simples caso de polícia. CUT e Força Sindical, além de outras federações sindicais, são, na concepção demotucana, meros apêndices do petismo entre os trabalhadores.
Poderia citar mais um monte de exemplos sobre essa dicotomia tucanos/pobres. Mas vou parar por aqui, lembrando apenas que nesta campanha não existiu nada melhor para mostrar a distância enorme que existe entre o partido e esse estrato social do que a "lógica do puxadinho" que Serra expôs brilhantemente num desses debates de que participou: gosto tanto dos pobres que baixei impostos sobre materiais de construção para que eles pudessem fazer um "puxadinho", disse ele.
Não uma casa, uma moradia digna, mas um "puxadinho".

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