quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Corrida maluca

Dá até para desculpar algumas bobagens que os dois presidenciáveis dizem nessa maratona rumo ao Palácio do Planalto: é só olhar para as suas fotos para ver que eles estão um bagaço só, complemente exaustos.
É de admirar a obstinação dos dois em continuar essa rotina maluca de viagens, entrevistas, comícios, carreatas, debates e tudo o mais o que compõe uma campanha eleitoral. O desgaste físico e emocional é tremendo, e eles simplesmente não desabam no meio do caminho porque a adrenalina está a mil, levando o corpo ao limite.
Em 1982, durante três meses, experimentei, com muito menos intensidade, o que é o estresse motivado por uma disputa eleitoral. Participei, como candidato a vereador, da eleição municipal daquele ano, em Jundiaí. O PT era um partido novíssimo na cidade e achávamos que era importante eleger pelo menos um vereador. E a melhor maneira para isso seria lançar um candidato a prefeito para puxar os votos.
O partido era dividido entre a turma da Convergência Socialista, que mais tarde saiu do PT e fundou o PSTU, e as outras pessoas, das mais variadas procedências. Eu fazia parte desse último grupo. Como a Convergência fechou questão no lançamento de uma chapa completa, com candidatos a prefeito e vereador, fomos pedir à direção regional que ela liberasse a formação de uma sublegenda - a legislação da época permitia até três por partido, mas o PT era contra isso.
Dado o sinal verde, fomos à luta, sem dinheiro, sem estrutura nenhuma, eu trabalhando no Jundiaí Hoje, o diário que quixotescamente concorreu por longos três anos com os outros dois que a cidade tinha então.
E era uma luta mesmo: levantar de madrugada, ir para portas de fábricas, feiras-livres, pontos de ônibus, participar de reuniões, cuidar da confecção de impressos, tentar arranjar algum dinheiro, falar, conversar, discursar, fechar o jornal, e quando sobrava tempo, dormir.
No fim das contas, nosso candidato a prefeito recebeu uma bela votação, mais de 10 mil votos, e elegemos o nosso vereador. Eu até que fui bem, com os meus seiscentos e trinta e poucos votos, muito mais que achava que teria.
Nem imagino, no meio daquele redemoinho, quantas besteiras devo ter dito nos encontros de que participei. Me lembro apenas que tinha dia que achava que não ia conseguir levantar da cama, de tão cansado que estava. Na verdade, senti um alívio enorme quando a eleição acabou.
A experiência foi muito importante, mas não a recomendo a ninguém. Política é assunto para profissionais, gente que está metida nela até o pescoço, que fez dela a sua vida. Os amadores devem ficar longe dela, sob o risco de saírem traumatizados de uma campanha, com feridas profundas no corpo e na alma.

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