quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Dinheiro, pra que dinheiro?


Um dos truques usados hoje pela mídia para interferir no resultado das eleições é editar matérias aparentemente jornalísticas, mas que, no fundo, não passam de um editorial contra o governo.
A TV Bandeirantes fez isso outro dia. Sem nenhum gancho, colocou no ar em seu principal jornal da noite uma "reportagem" sobre a carga tributária brasileira, aquele blá-blá-blá sobre o excesso de impostos que o cidadão paga, sem nenhuma contrapartida. O pessoal da Associação Comercial de São Paulo não teria feito coisa melhor.
De qualquer forma, o tema é importante para o debate eleitoral. Sinceramente, gostaria que o candidato da oposição o levantasse num desses vários debates que estão marcados. Seria uma chance de ouro para que a candidata governista explicasse, de forma didática, a importância de um país ter um sistema arrecadatório eficiente e, principalmente, para que servem os impostos.
Porque, parece incrível, mas a maioria da população não tem a mínima ideia disso. Soterrada por uma propaganda mentirosa, muitos acham o fim do mundo ter de pagar imposto.
Sem informação, as pessoas julgam que estão sendo exploradas pelo governo, que as mercadorias que compram poderiam ser mais baratas se não fosse a ganância dos governantes, e que essa parcela embutida nos preços, ou retirada do rendimento, serve apenas para pagar o salário de um bando de vagabundos pendurados em imensos cabides de empregos.
Gostaria mesmo que Serra levantasse essa questão. Dilma teria então a oportunidade de dizer que o Estado idealizado pelos neoliberais não existe na prática em nenhum lugar do chamado mundo civilizado, que é uma mentira elevada à nonagésima potência essa história de que, no poder, essa turma que mantém o tal "impostômetro" vai conseguir fazer um governo decente abrindo mão de um centavo do que é hoje arrecadado.
E se Serra argumentasse então que o problema não é a arrecadação, mas o destino do dinheiro que entra nos cofres do governo, aí então eu ia morrer de rir quando a sua adversária explicasse que um Estado para funcionar tem de manter uma burocracia competente e bem paga para que os serviços sob sua atribuição - saúde, educação, previdência, programas sociais etc e etc - funcionem minimamente.
Nesse debate hipotético, Serra poderia então responder dizendo que no Brasil os impostos têm um baixo retorno para a população, e que o seu governo economizaria nas despesas da máquina (despedindo milhares de funcionários e terceirizando, ou "privatizando" os serviços) para atender melhor o povo.
A essa altura, Dilma teria a chance de dar o xeque-mate. Afinal, esse modelo preconizado pelos tucanos/pefelistas naufragou em todos os locais onde foi posto em prática. Até os invejados Estados Unidos, por exemplo, reveem seu sistema de saúde. Há pouco tempo, São Paulo amargou uma experiência catastrófica na mesma área, sob o comando de Paulo Maluf. Isso porque tal sistema coloca sob as "leis de mercado" áreas que devem ser totalmente isoladas da ganância que move o capitalismo.
O debate sobre a carga tributária do Brasil é muito importante para o aperfeiçoamento da democracia. Mas para que tenha resultado prático, seus protagonistas devem entrar nele despidos da hipocrisia que contamina todo o seu discurso de mudança.

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