sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Capital e trabalho


Pouco antes do Carnaval, a Fiesp mandou um release aos jornais com a sua posição a respeito da redução da carga de trabalho para 40 horas semanais. Claro que a entidade é contra a proposta, que está em discussão no Congresso.
Se o título do release - "Fiesp e Ciesp são contra redução obrigatória da jornada de trabalho" - apenas dá uma pista sobre o que vem a seguir, o subtítulo diz tudo: "Imposição não é boa para o trabalhador, nem para o empresário e, muito menos, para o Brasil, diz Paulo Skaf, presidente das entidades".
O texto é pérola rara e merece um resumo:

Em ano eleitoral o velho tema volta ao debate, sinalizando claro uso político de algo que, na prática, já é realidade no País com base no livre entendimento entre empresas e seus colaboradores em diversos setores da economia.

A Federação e o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp/Ciesp) são contra a Proposta de Emenda à Constituição 231/1995, que prevê a redução da jornada semanal de trabalho de 44 para 40 horas e aumento da hora extra de 50% para 75%. Diversas experiências internacionais, e em especial a brasileira, mostram que objetivo do projeto — aumento dos postos de trabalho — não será atendido.

A pretendida medida, além de não criar emprego, comprometeria a competitividade brasileira, poderia reduzir os níveis de produção, as exportações e provocar o aumento de preços em numerosos produtos, bens de consumo e serviços. E nada, como tais indicadores, conspira tanto contra a criação de postos de trabalho!

“Para as grandes empresas, que já praticam jornadas iguais ou inferiores a 40 horas, a obrigatoriedade de uma redução não trará efeito algum. Já para as pequenas e microempresas, a medida seria inviável, trazendo o risco de desemprego como aconteceu na França. Algo prejudicial às empresas, aos trabalhadores e ao País”, afirma Skaf.

Não é prudente nivelar organizações diferentes, atividades distintas e peculiaridades produtivas e trabalhistas. Seria anacrônico e autoritário, além de inoportuno, considerando que ainda estamos emergindo da grave crise mundial, uma conjuntura que exige trabalho, dedicação e foco no crescimento.

“Em vez de uma legislação impositiva em ano eleitoral, é mais moderno e eficaz que empresas e trabalhadores unam-se na meta do crescimento sustentado, do aumento da produção e das exportações e da consequente criação de empregos. O diálogo, democrático e inquestionável, estabelecerá, como já vem ocorrendo em nítido avanço, a melhor jornada para cada empresa e setor, suscitando sinergia entre capital e trabalho na conquista do desenvolvimento brasileiro. Assim, ganham todos e o País”, propõe Skaf.

Além de presidir a mais rica federação de indústrias do Brasil, Paulo Skaf, como se vê pelo release que mandou distribuir, é um filósofo do naipe dos maiores que o mundo já produziu. Tem a fórmula para conciliar o capital e o trabalho: basta, como diz, usar "o diálogo, democrático e inquestionável" para que tudo se resolva.
Não foi à toa que ele se filiou ao PSB e, como neo-socialista, pretende se candidatar ao governo do Estado de São Paulo.
Já pensaram se der uma zebra?

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