Essa história dos caças que o governo vai comprar para a FAB provocou uma insólita erupção de jornalistas especializados na área da defesa, em armamentos e, mais especificamente, em aviação militar. Interessante que até outro dia eles eram pouquíssimos, dava para contar nos dedos de uma só mão. Agora, até a notória Eliane Cantanhêde dá palpites sobre o assunto. Pensando bem, em se tratando dela, nada mais normal: a mulher também exibe notório saber em temas tão díspares como febre amarela e sucessão presidencial, passando pela macroeconomia, física nuclear e prevenção de enchentes. Ela é mesmo um fenômeno.
Agora, falando sério: a compra dos tais caças aguçou o apetite da oposição, que vê nela a oportunidade para mais uma tentativa de desgastar o governo. O deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), que nos últimos tempos teve seus 15 minutos de fama na presidência da falecida CPI dos Grampos, e é tido como homem de confiança do "banqueiro" Daniel Dantas, está agora novamente com comichões para voltar à ribalta e escolheu justamente o tal projeto FX-2 para aparecer.
Com toda a cobertura da imprensa auto-intitulada "independente", ele informa que quer criar - adivinhem só? - uma CPI para "investigar" o processo de reequipamento da Aeronáutica que o governo leva adiante.
Claro que isso não vai dar em nada. Até agora, o que houve de fato foi muita especulação da imprensa, que ainda se refere ao FX-2 como uma licitação - mesmo erro cometido pelo deputado, ao justificar a "necessidade" de os parlamentares se meterem no assunto. Como se eles tivessem alguma preocupação em defender o dinheiro público...
O FX-2 não é uma licitação. Pelo menos não de maneira formal. A FAB vem há anos desenvolvendo esse projeto - antes ele se chamava só FX, foi cancelado, e o Brasil adquiriu um lote usados de Mirage 2000 da França para substituir os velhos Mirage que mal se aguentavam no solo e acabaram aposentados. Foi um quebra-galho inteligente, de baixíssimo custo, até que o novo processo de escolha dos jatos, o FX-2, fosse concluído.
O trabalho do FAB é entregar aos superiores, no caso o ministro da Defesa e o presidente da República, seus pareceres técnicos sobre os aviões selecionados para fazer parte da fase final dessa negociação. Antes, havia outros modelos, de outros fabricantes, que, por algum motivo, deixaram de interessar ao Brasil.
Essa decisão é técnica, mas não é a definitiva. A FAB pode dizer que o F-18 é mais rápido que o Rafale, ou que o Gripen é mais bonitinho, mas quem vai bater o martelo sobre qual caça será comprado - claro que com base no que dizem os especialistas da FAB, e não os da imprensa "independente" - é o presidente da República.
E a sua decisão é política, como obrigatoriamente tem de ser, pois ela deve atender a uma série de interesses, diplomáticos, econômicos, militares etc.
O projeto para o reequipamento da FAB vem desde o governo FHC, que, covardemente, passou o abacaxi para o seu sucessor Lula. Ele envolve muito dinheiro, há lobbies fortíssimos atuando, existem pressões de todos os lados. A própria Aeronáutica, nesse caso, voa em céu turbulento.
A indicação de que os franceses podem levar a melhor obrigou americanos e suecos a mudarem suas ofertas. A própria Dassault só vai ganhar a corrida se baixar seus preços.
O jogo é de gente grande. Para o bem deles próprios, seria melhor que os nobres deputados e os jornalistas que, nos últimos dias, se "especializaram" no tema acessando o Google, brincassem de guerra com o velho e divertido War - para os mais radicais existem vários "flight simulators" à venda nas boas lojas do ramo.
Como as CPIs, eles são capazes de fazer bastante barulho.
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