terça-feira, 23 de junho de 2009

O distante e estranho Irã

É difícil ter alguma simpatia pelo regime do Irã. Essa história de um Estado liderado por fanáticos religiosos não faz o meu gênero. Sou inteiramente a favor de regimes laicos, que separam totalmente a religião do Estado. Cá entre nós, acho que a religião já fez mais mal do que bem para o mundo e, portanto, deve ter seu alcance restrito apenas a essas coisas do outro mundo que tanto preza.
Mas voltando ao Irã: apesar de todas as ressalvas ao regime dos aiatolás, não posso negar que se eles estão mandando no país é porque o povo iraniano assim deseja. Não assumiram o poder do nada, mas foram se consolidando como uma força aglutinadora ao longo dos anos, resistindo à corrupção, à tirania e aos desmandos do xá imposto pelos americanos. Portanto, vamos esquecer qualquer maluquice de querer tirá-los do comando da nação. O que o mundo deve fazer é simplesmente aturá-los: isso sim é uma atitude civilizada.
Quanto aos desdobramentos da eleição presidencial do Irã, vale o que escrevi acima: é, única e exclusivamente, problema deles. Os países ocidentais, notadamente os Estados Unidos e alguns europeus, gostam de dar palpite sobre o que os outros deveriam fazer, mas, na maioria das vezes, jogam suas mazelas para debaixo do tapete. Levante a mão quem nunca foi acusado de fraudar eleição, ou de respeitar inteiramente os direitos humanos.
Li, em algum lugar da internet, um relato de um empresário brasileiro que esteve no Irã no período eleitoral e constatou o quanto milionária foi a campanha do oposicionista que denunciou as tais fraudes do processo eleitoral e o prestígio do presidente Mahmoud Ahmadinejad entre os eleitores mais pobres - a maioria da população do país. Segundo esse empresário, o oposicionista contava somente com votos entre a classe média e estudantes, insuficientes para ganhar a eleição.
Em outro artigo, fiquei sabendo que o tal Moussavi não é flor que se cheire: quando esteve no governo, foi mais duro que o mais duro dos aiatolás, e se ressurgiu como um moderado, foi graças a um árduo trabalho de marketing eleitoral.
O fato é que vai demorar ainda muito tempo para que as mudanças pretendidas pelos ocidentais ocorram no Irã. Enquanto o país estiver isolado, enquanto tiver o dinheiro proporcionado pelo petróleo e enquanto for alvo preferencial do ódio israelense, o Irã, tenho certeza, será essa estranha nação, tão distante da nossa cultura. E que, apesar de tudo, somos obrigados a respeitar.

2 comentários:

  1. Caro Carlos Motta, o texto do empresário que esteve no Irã é este: A visão de quem chegou do Irã, publicado no blogue do Luís Nassif. E o João Villaverde dissecou o Mousavi no texto O Irã revolucionário de 2009.

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