sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Jogo inconcluso

Novamente, a eleição em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, vai opor o PT e o PSDB-PFL, partidos que têm visões antagônicas sobre Estado, sobre o governo, sobre quase tudo, enfim.

Alguns dos chamados "analistas políticos" se apressam em dizer que o embate vai antecipar o de 2010 e que a eleição paulistana será um teste para a popularidade de Lula.

Bobagem. Uma eleição municipal tem características próprias - especialmente a de uma megalópole como São Paulo.  O componente ideológico atrai muito menos o eleitor do que o efeito prático de uma boa - ou má administração.

Não por coincidência, os favoritos neste pleito são justamente os prefeitos que buscam a reeleição, pois, afinal, surfaram na onda da maré alta do crescimento econômico e puderam, assim, contentar a maioria dos munícipes. 

O inexpressivo Gilberto Kassab não é exceção. Por pior que tenha sido seu governo, dando destaque a inutilidades do tipo Cidade Limpa, ou oferecendo serviços de primeira categoria para bairros classe A e de segunda para bairros classe C/D, o que fica é a impressão que, no geral, as coisas melhoraram. 

E elas melhoraram mesmo, mas não por causa da prefeitura serrista, e sim porque o país começou a oferecer mais empregos, mais renda, mais crédito, mais oportunidades de ascensão social, uma vida mais digna. E isso as pessoas percebem - e muitas delas pretendem votar em quem pensam ser o responsável por essa situação.

A provável vitória de Kassab num segundo turno deve dar um impulso extraordinário aos planos de Serra para ser o sucessor de Lula. Mas não significará uma derrota acachapante do PT, ou de sua candidata, ou mesmo do presidente. A análise tem de ser feita com um olhar mais amplo, mais nacional, menos paulistano. 

Até porque, segundo as pesquisas, na região metropolitana, o PT será hegemônico, o que praticamente compensa uma eventual derrota na capital. 

As eleições municipais são apenas um lance marginal no extenuante jogo de xadrez da política nacional. A médio prazo, mais importante para definir os papéis dos peões, dos cavalos, das torres, dos bispos, da dama e do rei, será mesmo o desenrolar desta imponderável crise financeira que golpeia o mundo.

O futuro do governo Lula depende exclusivamente de sua capacidade de reação a este jogo brutal, sangrento e sem regras praticado no cassino global.

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