quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Direitos e deveres

Parlamentares, advogados, juristas, ministros de tribunais de Justiça e outras pessoas das mais variadas ocupações estão promovendo uma revolução no país, que promete ter reflexos duradouros: ao fazerem de tudo para dificultar a prisão de suspeitos, mas principalmente de suspeitos brancos e ricos, instituem no Brasil o apartheid social, mais completo e sofisticado que o racial que vigorou por décadas na África do Sul.

Se o desejo dessas pessoas se concretizar, será quase impossível que alguém, à exceção de pobres, pretos e putas, seja levado aos tribunais.

Proibir a interceptação telefônica de suspeitos é restringir a investigação aos meios mais primitivos, é negar o uso, pela força policial, de qualquer progresso tecnológico, é impedir que o Estado exerça seu legítimo direito de procurar evitar crimes e punir os criminosos.

Proibir que o agente policial algeme o suspeito no ato de sua prisão inverte valores e proporciona riscos desnecessários à integridade física de quem está simplesmente cumprindo o seu trabalho.

Alegar que o uso de algemas representa uma "espetacularização" (êta palavrinha feia essa que inventaram!) é por demais simplório.

São, principalmente, os personagens e suas ações que determimam o grau de interesse do "espetáculo". Poucos vão se importar em ver a polícia prender um bêbado que brigou no bar da esquina, mas muitos, certamente, não despregaram os olhos da TV quando o banqueiro Daniel Dantas apareceu sendo devidamente "recolhido aos costumes".

O impacto da imagem teve um efeito muito forte sobre a população, que, pelo menos em um momento, ficou com a impressão que a Justiça no Brasil não é feita - é preciso repetir - apenas para pretos, pobres e putas.

Mas, tudo indica, o lobby dos "homens de bem", que enxergam nessas últimas ações uma conspiração do Estado policial contra o direito à privacidade e às liberdades democráticas, vai vingar.

E o Brasil deve continuar a seguir seu triste caminho de nação dividida entre quem tem todos os direitos (hoje o mais exercido por essa turma endinheirada é o de ficar calado) e quem tem apenas todos os deveres.

Entre eles o de sempre apanhar sem reclamar.

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