sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Poder incontestável

O sucesso que o governo tem tido na área social não se repete na da comunicação. Mesmo depois da atuação monolítica da mídia em prol da candidatura oposicionista na eleição passada, tanto Lula quanto seus assessores ainda esperam que lhes seja dado um tratamento pelo menos imparcial no noticiário do dia a dia. É mais que evidente que isso não vai ocorrer: os meios de comunicação do país são controlados por meia dúzia de famílias que trazem arraigadas práticas retrógradas, antidemocráticas, monopolistas, predatórias - têm uma visão quase feudal das relações patronais e pré-capitalistas das comerciais.
Mesmo assim o governo Lula se mostra, desde o início, incapaz de tomar uma atitude sequer que demonstre interesse em mudar esse status quo. Todas as manifestações que partem dos organismos representativos dos jornalistas são ostensivamente repudiadas. A categoria nunca esteve tão fragilizada quanto neste governo - nem nos fatídicos tempos da ditadura militar ou com o inolvidável FHC.
Não é apenas a ojeriza que Lula tem do contato dos jornalistas. Isso é apenas uma idiossincracia sua, que pode ser tolerada nos limites das relações institucionais.
O caso é mais grave. Lula e seus assessores são incapazes de formular uma alternativa à dominação desta mídia oligarquica, que distorce fatos, muda regras, estabelece normas que apenas beneficiam os amigos e exerce pressões tão fortes que acabam influenciando decisões de pessoas públicas - em nome de um tal "clamor popular" que se esgota nas rodinhas das redações.
A TV pública que se esboça é uma tentativa tímida de se contrapor a esse imenso poder midiático que apequena o país na medida em que estabelece uma só corrente de pensamento. Mas ela será apenas uma gota num oceano de insensatez. É pouco, quase nada, diante da gigantesca demanda que uma nação jovem e esperançosa tem pelo conhecimento que pode ser adquirido também com a informação na dose certa.
Clamores no sentido da necessidade de democratização da mídia já se fazem ouvir aqui e ali.
Isso é muito bom. Mostra que existem focos de descontentamento que podem convergir para uma manifestação mais contundente.
É a velha história que se repete: sem luta, nada se conquista.
Com bastante barulho até os ouvidos mortos acabarão se irritando.

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