sábado, 17 de março de 2007

Gênero maior

Apesar de todas as evidências em contrário, ainda há quem veja o futebol como coisa menor, sem importância na vida do homem. Um engano. Cada vez mais o futebol se incorpora às necessidades do dia a dia de bilhões de pessoas. O noticiário futebolístico impregna os jornais, os rádios, a televisão e a internet. Discute-se desde o pênalti que não houve até os métodos de gestão dos clubes. O importante é manter o assunto aceso.
Mas em meio a tanta quantidade, falta qualidade. São poucos os textos realmente informativos e raros os que mostram algum conhecimento acima do nível da torcida. Ex-jogadores são convocados para preencher essa lacuna e o resultado é deprimente - principalmente para a língua portuguesa.
A imprensa esportiva brasileira teve grandes profissionais. Alguns elevaram seus textos ao nível literário, caso de Nelson Rodrigues e Mário Filho ou mesmo João Saldanha. O gênero atraiu até mesmo romancistas consagrados, como José Lins do Rego, autor, entre outros, de Menino de Engenho, Doidinho e Bangüê. Tinham em comum a paixão escancarada pelo seu time. Nunca esconderam suas preferências, como faz hoje a grande maioria dos "cronistas" esportivos. São bons exemplos para esta nova geração que se encanta com "craques" pré-fabricados e datados.
Para entender um pouco como o futebol pode ser inspirador para quem mexe com as palavras vaí abaixo uma crônica de José Lins do Rego, do livro Flamengo é puro amor (José Olympio Editora), publicada originalmente no Jornal dos Sports em 15 de novembro de 1951:

O Flamengo

"Mais um ano do meu querido Flamengo. Amo-o como um dos mais ardentes amores de minha vida. E por ele este coração de 50 anos bate no peito com as 120 pulsações dos minutos apertados da torcida. Sinto-o na angústia e não me amargo com isso. Aí está a minha paixão incontida, o meu maior arrebatamento de homem, confundido na multidão.
E é por tanto amor que me dói a injustiça dos que não sabem conter as malignidades e se concentram contra um clube sem arrogância, tão camaradesco, sem bobagens, tão largado nas exuberâncias.
Mais um ano do meu Flamengo. E ele cada vez mais no coração do povo brasileiro. Não queremos maior troféu nem maior glória."

Ao ler essa singela declaração de amor, meu coração palmeirense também bate mais forte.

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