terça-feira, 25 de agosto de 2015

O tempo passa, o tempo voa...

O patronato fez a pior proposta dos últimos anos na negociação salarial com os jornalistas de São Paulo. 

Os empresários alegam que vão mal das pernas, que a tal crise os pegou de jeito e, portanto, não podem nem repor a inflação no salário dos empregados que produzem as "notícias" que servem para emoldurar a publicidade, que é o que realmente interessa a eles.

O número de jornalistas jogados para fora das redações neste e em anos anteriores dá a ideia de que as empresas de comunicação estão mesmo em sérias dificuldades financeiras.


O interessante, porém, é que, para determinado público, ou seja, para potenciais anunciantes, eles dizem que estão voando em céu de brigadeiro, que as tiragens e a audiência de seus programas não param de crescer, que tudo está às mil maravilhas.

Mas na hora de negociar o reajuste salarial a conversa é completamente diferente.

Seja qual for a verdade, alguns fatos são inquestionáveis:

1) Criar uma crise econômica no país por meio de uma enxurrada de notícias negativas, com a intenção de derrubar o governo trabalhista, é um tiro no pé. Ora, como os empresários podem se animar a investir em publicidade se os veículos que divulgarão seus negócios dizem que o país derreteu? A lógica manda que eles façam justamente o contrário, ou seja, reduzam seus gastos supérfluos até que a tal crise passe.

2) Jornais, revistas e outras publicações impressas estão com os dias contados. Insistir nesse modelo é suicídio. A internet já não é uma novidade, é um fato que revolucionou a comunicação global. Quem ainda não compreendeu isso, não investiu e não entrou de cabeça nesse novo meio, já está, ou estará muito em breve, fora do jogo.

3) O mesmo vale para o rádio e televisão. A decadência desses meios é mais lenta, mas igualmente inexorável.

Grande parte do patronato não entendeu essas mudanças tecnológicas e culturais. 

Vive ainda no mundo analógico do século passado.

Perdeu o chamado "trem da história".

E muitos jornalistas também incorrem no mesmo erro, de ignorar esse novo mundo que está se descortinando.

Lembro de quando os computadores chegaram às redações e as máquinas de escrever foram descartadas.

Havia colegas que se apavoraram com a necessidade de aprender a mexer nas máquinas que iam ser instaladas.

Alguns chegaram a desistir da profissão.

De certa forma, o mesmo ocorre agora. 

Os jornalistas precisam entender que acabou o tempo das redações enormes, das entrevistas face a face, das longas viagens de reportagens.

É triste para quem tem arraigada a ideia de que a informação é exclusiva de alguns iluminados, vê-la correr a internet em tempo real, nas mais diversas formas e locais, comentada, analisada e preservada em imagens, algo inimaginável há alguns anos.

Pessoalmente, não tenho nenhum saudade de quando arrancava as laudas da máquina de escrever toda vez que o lide da matéria não saía como queria, ou da coceira que sentia nas mãos por causa da tinta do telex que "canetava". 

Mas, enfim, respeito os saudosistas...

2 comentários:

  1. E foi nesse tempo que nos conhecemos. E me sinto honrado e orgulhoso de ser seu amigo. Sou seu fã inegável e admirador constante. Dar-lhe parabéns, seria chover no molhado. Abrax!

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  2. As coisas mudam. Novos processos e métodos. Mas a alma e a inteligencia do homem permanece. De um lado a esperteza (será?) dos empresarios. De outro a vizão apurada e a luta pela sobrevivência dos profissionais.
    Beleza de crônica. Parabens.

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