Patrões agora querem baixar salário dos jornalistas

A vida dos jornalistas de São Paulo não está nada fácil.
Depois das demissões em massa promovidas pelas maiores empresas, a campanha salarial de quem trabalha em jornais e revistas na capital, como nos anos anteriores, continua empacada.
Na última reunião de negociação os patrões insistiram em manter a proposta - se isso pode ser considerada uma proposta - de reajustar a categoria em índices abaixo da inflação, ou seja, além de mandar embora centenas de profissionais, eles agora querem baixar o salário de quem continua empregado.
A desculpa que dão é que as vendas, e consequentemente o faturamento, estão em queda, no Brasil e no mundo. 
E como nos anos passados, querem dar o reajuste escalonado, em duas faixas salariais.

A data-base dos jornalistas é 1º de junho. 
Pelo andar da carruagem, a negociação vai se estender além de agosto.
Em 2012 e nos anos anteriores, os jornalistas paulistanos começaram a receber o salário reajustado apenas no fim do ano. Dessa forma, os patrões tiveram vários meses para engordar o caixa, aplicar o dinheiro, fazer o que bem quisessem com a grana que deixaram de pagar.
O jornalista, ao contrário do que muita gente pensa, é um trabalhador como outro qualquer.
Uma ínfima minoria goza de privilégios, tem salários altos e mordomias.
A grande maioria trabalha em média 10 horas por dia, faz plantões puxadíssimos nos fins de semana e feriados, fica à disposição para pautas complicadas e perigosas.
Os jornalistas, absolutamente, não têm culpa da incompetência dos patrões, ou se eles não entenderam as mudanças que se processaram no campo da informação, com a chegada da internet.
Muitos profissionais alertaram que o modelo das publicações impressas estava se esgotando.
Como sempre, não foram ouvidos: uma redação típica é, provavelmente, o ambiente menos democrático - ou mais ditatorial, como queiram - que existe.
Nela, uma ordem, por mais absurda que seja, dificilmente é contestada. Todos sabem que o simples questionamento pode custar caro: quase sempre o emprego do "rebelde".
A justificativa dos patrões para diminuir os salários dos jornalistas é ainda mais precária quando se sabe que as principais publicações se transformaram em auxiliares dos partidos políticos da oposição ao governo trabalhista, deixando de lado o seu negócio, que é informar, com a máxima imparcialidade possível, seus leitores.
O abandono do jornalismo deu nisso que está aí: uma crise que não é só empresarial, mas principalmente editorial.
Ao abandonar o jornalismo e partir para a atividade político-partidária, as empresas fizeram uma jogada de alto risco.
Como se vê, perderam a aposta - e querem se safar do prejuízo à custa do sacrifício de seus empregados, atitude típica de quem ainda vive no pré-capitalismo, lá pelo fim do século 18.