terça-feira, 22 de maio de 2012

Jetta branco sem placas


Estava parado, esperando o semáforo abrir, no cruzamento da rua Clélia com a avenida Pompéia, por volta das 2 da tarde. Na faixa ao lado, à esquerda, um pouco à frente do meu carro, um Jetta branco se destacava dos outros veículos. Era novo, vidros "filmados" e não tinha placas. Um carro circula sem placas porque, provavelmente, seu dono acabou de tirá-lo da loja. É esquisito, pois essas revendas geralmente cuidam de tudo, já dão o veículo emplacado para o dono. De qualquer modo, o Jetta branco sem placas esperou, como todos os outros carros, o semáforo abrir. E quando isso ocorreu, ele pegou a esquerda, entrou na faixa exclusiva dos ônibus, já na avenida Francisco Matarazzo e sumiu de vista.
Dias antes, perto de casa, penava numa rua inteiramente congestionada quando, pelo retrovisor, vi um Gol abrir caminho como se fosse uma ambulância, ou uma viatura policial, ou um bombeiro, com uma luz piscando no teto. Só que ele não tinha nenhuma identificação, era um carro comum, certamente dirigido por uma pessoa que seria também comum se não tivesse a cara de pau de se valer de um expediente ilícito e condenável para seu proveito.
Nos dois casos, o do Jetta branco sem placas e o do Gol com a luz pisca no teto, os motoristas se arriscam a sofrer pesadas punições, de acordo com o Código Nacional de Trânsito.
Garanto, porém que não aconteceu nada a nenhum deles, que eles devem estar por aí, assim como tantos outros, debochando de normas e regulamentos, fazendo os seus negócios impunemente pela metrópole, se esmerando para cumprir a única determinação que conhecem, a consagrada lei de Gerson, essa que diz que o importante é levar vantagem em tudo.
Um sociedade civilizada, a gente está cansado de saber, começa pela educação das pessoas, não só a formal, mas aquela dada pela família, os valores que cada um carrega pela vida inteira, aquela voz interior que nos diz o que é certo e o que é errado, o que é justo e o que injusto, o que pode e o que não pode ser feito, os limites éticos e morais que nos impedem de invadir o território do outro, que estabelecem o nosso espaço de convivência.
São as pequenas cortesias, do tipo cumprimentar as pessoas ou dar preferência ao pedestre numa esquina, que mostram o grau de educação, ou de civilidade, de uma sociedade.
Obedecer as leis, então, nem se fala. Deveria ser obrigação de todos, isso é o básico.
Mas quando a gente vê o que faz o Jetta branco sem placas e o Gol com a luz pisca no teto, bate em nós uma dúvida: será que não conseguimos superar ainda a fase da barbárie, será que estamos na selva, como um bando de selvagens cuidando cada um de sobreviver como pode?
Pelo jeito é isso mesmo o que acontece. Com toda a tecnologia que possa ter, o Jetta branco sem placas, que custa no mínimo a bagatela de R$ 60 mil, é apenas um símbolo de uma sociedade que segue sem rumo e sem metas, desgovernada, em direção a um futuro nebuloso e cada vez mais incerto.

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