segunda-feira, 19 de março de 2012

Terror amigo


Nesses últimos dias dois carros-bomba explodiram em cidades sírias, matando e ferindo dezenas de pessoas, civis. Não foram os primeiros atentados praticados contra instalações do governo, mostrando que a oposição a Bashar Al Assad já incorporou os atos terroristas ao seu arsenal, que já se sabe, é abastecido por várias nações interessadas na queda do regime, algo que daria um novo desenho à geopolítica da região.
Também se sabe que os Estados Unidos, em nome da luta antiterror, têm gasto bilhões de dólares nos anos recentes, mobilizando sua formidável máquina de guerra em regiões cultural e geograficamente tão longe quanto o Afeganistão, o Iraque, ou a Líbia.
Mas da mesma forma com que classificam os regimes como bons ou maus dependendo do grau de subserviência aos seus interesses, os Estados Unidos, a julgar pelo silêncio sepulcral de seus porta-vozes no caso sírio, agora também têm duas definições para o terrorismo.
Nada como um dia depois do outro.
Ou, no caso, um carro-bomba depois do outro.
A Síria hoje se converteu num sangrento território disputado por vários grupos políticos, religiosos e  étnicos, por vários países, por muitos interesses e nenhuma racionalidade.
Pois lá, ao lado de verdadeiros democratas ou de mercenários de vários países, financiados, em última instância pelos americanos e seus satélites, estão os fanáticos da Al Qaeda, inimigos mortais do "Grande Satã" (os Estados Unidos), responsáveis pelo maior ato de terrorismo jamais executado, a queda das Torres Gêmeas.
Parece algo incompreensível, e é isso mesmo: a política externa americana, na maioria das vezes, é mais sentida do que compreendida - seus efeitos terríveis ecoam no mundo desde que o país se transformou em potência e, depois, numa superpotência militar e cultural.
E é graças a esse equilíbrio entre a força das armas e da propaganda que os Estados Unidos exercem seu domínio mundial.
Pois não seria possível que todas as atrocidades feitas pelo império americano passassem à história como atos de bravura, de coragem, de luta pela liberdade e democracia, se não tivessem o respaldo de uma extraordinária engrenagem de informação, que não cessa de bombardear as mentes de todos com mensagens primárias sobre o bem e o mal, sobre mocinhos e bandidos, reduzindo toda a complexidade planetária a um enredo de um filme de Hollywood.
Hoje, as luzes desse espetáculo repugnante estão focadas no Oriente Médio, mais especificamente na pobre Síria. Amanhã, elas se voltarão a outro país, outro povo. Muito provavelmente o Irã dos aiatolás, uma enorme pedra que há décadas incomoda os passos do gigante americano e seus aliados.
O roteiro e as falas são sempre os mesmos, o que muda é o elenco, pois de vez em quando, para que a história termine bem, até se admite que alguns vilões na vida real façam o papel de heróis.

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