domingo, 5 de fevereiro de 2012

Samba para emocionar


Diz a lenda que certa feita o grande poeta Vinícius de Morais, figura de proa da música popular, se referiu a São Paulo como sendo o "cemitério do samba". Se disse mesmo isso, a frase foi um dos maiores enganos de alguém que tinha muita intimidade com as palavras e com o samba. O tempo acabou por provar que o samba paulista tem identidade, força e criatividade, se renova sempre e sempre surpreende. Não se resume apenas às obras marcantes, essenciais, de Adoniram Barbosa e Paulo Vanzolini, que já fazem parte do panteão dos craques da tal MPB.
Existem dezenas de outros grandes artistas que se dedicam ao gênero. E numa lista enorme, há um que vem fazendo, há décadas, sem alarde, um trabalho que hoje já o coloca ao lado de Adoniram e Vanzolini, tal a coerência, quantidade e qualidade de suas canções, tal o número de gravações que elas tiveram, e, principalmente, pela sua atemporalidade: quem não conhece, por exemplo, "E lá se Vão Meus Anéis", lançada no longínquo ano de 1970 pelos Originais do Samba?
Seu compositor, Eduardo Gudin, tinha na época, 20 anos, mas aos 16 anos já estava metido no meio artístico, convidado que fora para participar do antológico Fino da Bossa, programa da TV Record apresentado por Elis Regina e Jair Rodrigues, que fazia jus ao nome: a mediocridade passava longe dele.
De lá para cá Gudin fez muita coisa, teve muitos parceiros do primeiro time (Paulo César Pinheiro, Paulinho da Viola, Vanzolini, Elton Medeiros, Aldir Blanc, Sérgio Natureza, Costa Neto, Arrigo Barnabé, entre outros), gravou muitos discos, cantou suas músicas em dezenas de shows, e as viu serem cantadas por vários intérpretes.
Arranjou ainda tempo de formar, em 1995, o grupo Notícias Dum Brasil, que teve, desde então, três formações que aparecem em três CDs. Entre outros, participaram dele Fabiana Cozza e Mônica Salmaso.
No ano passado, Gudin reuniu as formações do Notícias e, com direção de Fernando Faro, amigo de longa data, montou o show 3 Tempos. E, para sorte de todos nós, o espetáculo virou um DVD, que o Sesc acaba de lançar. É uma espécie de resumo da obra maiúscula de Gudin, maravilhosamente interpretada.
Tem desde clássicos como "Verde", "Paulista", "Velho Ateu", "Mordaça" (que integrava o show "O Importante é que Nossa Emoção Sobreviva", com Paulo César Pinheiro e Márcia, no auge da ditadura), "E lá se Vão Meus Anéis", "Chorei" e "Maior é Deus", como outras menos conhecidas, mas também irretocáveis, como "Praça 14 Bis", "Lenda", "Violão Gentil", "Estrela", "Mente", "Ainda Mais", "Por que Razão?", "Quem Chega Atrasado", "Som Conquistador", "Obrigado", "Luzes da Mesma Luz", "Tambor", "Samba de Verdade", além de duas inéditas, "Elegância Antiga" e "Três Tempos", composta especialmente para o show.
O DVD está à venda na loja online do Sesc. Custa só R$ 40. Vale cada real. É um grande investimento para a alma, garantia de momentos mais que agradáveis, inesquecíveis.

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