sábado, 19 de julho de 2008

Um estranho país

Estranho país o nosso. De repente, como num passe de mágica, calaram-se as vozes estridentes dos moralistas, silenciaram-se os gritos histéricos dos pregadores da ética e bons costumes públicos, fizeram-se mudos os brados coléricos dos modernos Cíceros com suas catilinárias desenfreadas e sem sentido.

De repente, o vilão abjeto, cérebro por trás das ações mais torpes dos últimos tempos, se transforma num pobre cidadão injustamente perseguido por um Estado policial conduzido por mentes doentias e capazes de tudo para se manter no poder, este ser absoluto que a todos encanta e corrompe.

De repente não há mais certezas. Nem pecados. Tudo é relativo nestes tempos de perplexidade.

O amigo pode ser o inimigo de amanhã e de sempre.

O inimigo foi um leal e franco companheiro de toda a vida.

E os profissionais apenas cumprem ordens.

Nos jornais, nas televisões, nas rádios, na internet, discute-se agora, neste momento, uma notícia já velha, ultrapassada, sem valor. E outra virá, e mais outra, e outra mais, numa sucessão interminável de surpresas.

Surpresas? As chagas estão escandalosamente expostas para todos. O cheiro da podridão torna-se doce, embriagador, envolvente. Nada mais repugna ou ofende.

Somos apenas cúmplices da banalização da deplorável Lei de Gerson, aquela que nos manda levar vantagem em tudo - certo?

É um estranho país este nosso que tem vergonha de ser honesto.

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