As ofensas do ex-costureiro Clodovil Hernandez à deputada federal Cida Diogo (PT-RJ) ganham a devida dimensão política. O ex-apresentador de TV pode achar que fez pouca coisa e que, portanto, não deve desculpas à deputada. Talvez, na sua concepção doentia de mundo, ele esteja sendo sincero. Pessoas de seu nível intelectual, moral e ético julgam-se acima das outras, exalam um ar de onipotência que as transformam em seres realmente especiais: são, intrinsecamente, más, no sentido em que abandonam toda a relação de cordialidade necessária ao convívio saudável dos homens em favor do simples exercício de poder.
Ela é feia, eu sou bonito. Ela teve 70 mil votos, eu tive 500 mil. Eu apareço na televisão, ela não. Eu sou o Clodovil, ela não é ninguém. E estamos conversados.
Esta é a lógica do ex-estilista de moda que, devido a problemas de uma jovem democracia, acaba sendo levado ao Parlamento sem nenhum preparo, sem nenhuma noção do que ele próprio e o Legislativo representam, sem nenhuma informação sobre como se comportar frente aos seus pares, a não ser os clichês repetidos à exaustão pela mídia - e amplificados pela sua própria voz de clown.
O episódio é, antes de mais nada, triste, porque aprofunda a sensação de que não conseguiremos nunca escapar da armadilha de escolhermos esse tipo de gente para ocupar cargos importantes - pessoas que discursam a favor da moralidade, de vagos princípios cristãos, contra a hipocrisia dos políticos e, no fundo, não passam de meros aproveitadores.
Resta a esperança de que os parlamentares dêem uma resposta à altura às bazófias desse histrião, pondo-o no seu devido lugar. Que, evidentemente, é bem longe do Congresso Nacional.
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